segunda-feira, 9 de novembro de 2015

REVISTAS ANTIGAS (OLD MAGAZINES) - REVISTA DO RÁDIO (RADIO MAGAZINE) Nº 760 - 1964 BRAZIL


REVISTA DO RÁDIO Nº 760 - 1964 / FOTO DE CAPA: DENISE ROCHA DE ALMEIDA (TV TUPI) / FOTO DE WALDEMIR PAIVA. Idealizada pelo jornalista Anselmo Domingos em abril de 1948, e de encontro obviamente a denominada "Era do Rádio", devido ao alcance do público ouvinte, a Revista do Rádio, durante seus 22 anos de existência, até 1970, circulou em praticamente todo o território nacional, com mais de mil exemplares, rapidamente se consagrou como uma das mais célebres protagonistas desse rico momento de nascimento da cultura de massas em nosso país. A edição n 1 da revista, teve quarenta páginas e trouxe na capa, Carmem Miranda, de quem Anselmo era fã. Por três cruzeiros, você a levava para casa e podia degustar a vontade as páginas interessantes, com belas fotos, e variadas, foi um sucesso imediato. 




Em 1949, ela já vendia 50 mil exemplares, e no ano de 1950, sua periodicidade era semanal. O sonho de Anselmo Domingos, era fazer uma revista que falasse dos astros e não fosse vinculada a nenhuma emissora. Mas a falta de dinheiro, era o entrave dessa viabilização. Quem acabou arranjando o financiamento para a criação da revista foi um banqueiro, José Batista, conhecido como China da Saúde, que comprava músicas e entrava como co-autor. A razão disso estava na forma diferenciada como a nova publicação, tratava o mundo do rádio. Antes existiam outras publicações sobre o assunto, como "A Carioca", "Noite Ilustrada", "Noite e A Manhã", mas todas funcionavam como órgão oficial de divulgação da Rádio Nacional, pertencente ao governo. Ou seja, eram o que se chama no meio jornalístico de revistas de releases. A nova publicação, ao contrário, divulgava todas as rádios e de forma mais autônoma, agradando a um público mais amplo. 




Numa pesquisa feita em 1956 pelo IBOPE, no Rio de Janeiro, a Revista do Rádio foi a segunda mais lida, ficando atrás somente de O Cruzeiro. A revista tinha os ingredientes certos para agradar ao público dos anos 40 e 50: as fofocas sobre os artistas, mulheres bonitas e sensuais, informações da vida pessoal e artística dos astros e estrelas do momento, e o diferencial chamativo, as manchetes para atingir em cheio, o público masculino e feminino. A revista chegou a ficar tão famosa que se tornou marchinha de carnaval, na voz do palhaço Carequinha: “Ela é fã da Emilinha/ Não sai do ‘César Alencar’/ Grita o nome do Cauby – Cauby!? E depois de desmaiar/ Pega a revista do Rádio/ E começa a se abanar”. A Revista do Rádio veio mostrar ao ouvinte do rádio, os donos das vozes que os encantavam:cantores, animadores de auditório, locutores, humoristas, radio atores, atrizes. 



Em forma de texto e fotografia, revelava aos brasileiros a vida profissional e íntima dos artistas, que assim iam se tornando, como é da natureza desse tipo de cultura, “ídolos populares”, “astros” e “estrelas”, fãs e clubes de fãs pelo país afora. Entre as mais diversas seções da revista, sem dúvida alguma, a de maior repercussão, era “Mexericos da Candinha”. A partir dela, Candinha virou sinônimo de fofoqueira. Qualquer coisa, era assunto para uma fofoca: o valor gasto por uma cantora no ar-condicionado, uma festa dada por uma celebridade do rádio, a magreza de uma atriz, a suspeita de infidelidade conjugal, etc. Bons tempos, tempos esses, em que se fazia o mesmo tipo de fofoca que hoje em dia assistimos frequentemente na televisão, mas naquela época, raramente o editor de uma revista ou jornal era processado. Hoje em dia, isso seria praticamente impossível, passar imune. Em 1965, a seção chegou a ser homenageada simplesmente, por Roberto Carlos, através da gravação de "Mexerico da Candinha":

A Candinha vive a falar de mim em tudo
Diz que eu sou louco, esquisito e cabeludo
E que eu não ligo para nada e dirijo em disparada
Acho que a Candinha gosta mesmo de falar
Ela diz que eu sou louco e que o hospício é meu lugar
Mas a Candinha quer falar
A Candinha quer fazer da minha vida um inferno
Já está falando do modelo do meu terno
E que a minha calça é justa e de ver ela se assusta
E também da bota que ela acha extravagante
Ela diz que eu falo gíria e que é preciso maneirar
Mas a Candinha quer falar
A Candinha gosta de falar de toda gente
Mas as garotas gostam de me ver bem diferente
A Candinha fala mas no fundo me quer bem
E eu não vou ligar pra mexericos de ninguém
Mas a Candinha agora já está falando até demais
Porém ela no fundo sabe que eu sou bom rapaz
E sabe bem que essa onda é uma coisa natural
E eu digo que viver assim é que é legal
Sei que um dia a Candinha vai comigo concordar



O cinema e o teatro também eram assuntos da revista, embora sobretudo o primeiro também tivesse, desde o início do século, as suas revistas especializadas. Mitos do teatro dramático como Procópio Ferreira, Dulcina de Moraes e Alda Garrido ou do teatro de revista, como a vedete e bailarina Lurdinha Bittencourt, tinham também sua vida profissional e pessoal contada aos leitores.Um detalhe importante, e como não podia deixar de ser, logo após a televisão aparecer no Brasil, nos anos 50, o rádio reconheceu a influência do novo veículo. É o que se pode constatar a partir da edição nº 502, de 2 de maio de 1959, quando logo abaixo do título da revista passou a figurar a frase “A primeira em rádio e televisão”. 



A partir da edição 532, de 28 de novembro de 1959, o próprio título da publicação passou a ser Revista do Rádio e TV, pois havia crescido demais, a quantidade de matérias sobre televisão, publicando-se inclusive a grade de programação das emissoras, como é o caso desta edição aqui postada no blog TV A LENHA. Como tudo um dia tem seu fim, mesmo um veículo de enorme sucesso, encerrou suas atividades em 1970, poucos meses depois da morte de seu criador. Uma trajetória magnífica, histórias de astros e estrelas e a construção, semana a semana, dos grandes mitos do rádio brasileiro. Aliás, nada ou quase nada se divulgava sobre artistas estrangeiros, a não ser quando vinham se apresentar no Brasil. Vinte e dois anos de criação, ainda ingênua e com pequena ambição financeira, de uma nascente cultura de massas no Brasil, num estilo que não deixaria, no entanto, de influenciar as dezenas de publicações que viriam a ser criadas no país. Sem dúvida alguma, a REVISTA DO RÁDIO, está ao lado de O CRUZEIRO, MANCHETE, GAZETA ESPORTIVA ILUSTRADA, entre outras, como uma das mais marcantes de todos os tempos!



F  I  M

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