segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O AMIGO DA ONÇA (CRIADOR: PÉRICLES DE ANDRADE MARANHÃO) (COMIC STRIP / CHARGE) - REVISTA O CRUZEIRO


O AMIGO DA ONÇA / REVISTA O CRUZEIRO - Quem é que não conhece ou nunca ouviu falar no famoso personagem que mantinha presença garantida nas páginas da Revista “O Cruzeiro” ? Criado pelo cartunista pernambucano Péricles de Andrade Maranhão em 1943, o “Amigo da Onça” foi publicado de 23 de outubro de 1943 a 3 de fevereiro de 1962. Os diretores da revista O Cruzeiro queriam criar um personagem fixo e já tinham até o nome, adaptado de uma famosa anedota. Péricles de Andrade Maranhão foi um adolescente pernambucano desenhista daquele com talento de enlouquecer qualquer professor. Jovem durante a fase de ouro dos quadrinhos, tinha o costume de imitar os traços de Dick Tracy, Agente Secreto X-9 e Flash Gordon, grandes clássicos dos quadrinhos na época. Menor de idade, chegou ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para nada mais nada menos que Leão Gondim de Oliveira, o “manda-chuva” dos Diários Associados, a mais poderosa rede de comunicações do Brasil naqueles anos. Em sua estréia, a 6 de junho de 1942, era o funcionário mais jovem da empresa. 



Nove meses depois,  surge seu primeiro personagem cômico no Diário da Noite: Oliveira, o trapalhão já divertia os leitores. No ano de 1943, O Cruzeiro baseada numa equipe jovem  e de qualidade iniciava a revolução que faria nos anos seguintes, se tornando a revista mais importante do Brasil.. Péricles participaria com um tipo humorístico que traduzisse "o típico brasileiro e o humor carioca", que captasse "o estado de espírito daquele que vive no Rio de Janeiro, não importa onde tenha nascido". Rabisco aqui, rabisco ali, Péricles coloca o lápis para trabalhar e então nasce uma figura que lhe parece apropriada. Baixinho, cabelo penteado para trás à base de brilhantina, “summer jacket”, bigodinho safado, olhar de peixe morto, quer melhor perfil para o “Amigo da Onça?”  O personagem fez  tanto sucesso que as tiradas que antes ficavam na capa e contra-capa passaram a ser dentro da revista, evitando que as pessoas apenas as folheassem sem pagar. O Amigo da Onça foi  utilizado para fazer jornalismo e críticas e em muitas situações o Amigo da Onça esculhamba instituições como o casamento, exército e a hipocrisia social contida no  jogo de aparências. 




Coube a Leão Gondim, o batismo do personagem, baseado numa piada da época: Dois caçadores conversam em seu acampamento: - O que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente? - Ora, dava um tiro nela. - Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo? - Bom, então eu matava ela com meu facão. - E se você estivesse sem o facão? - Apanhava um pedaço de pau. - E se não tivesse nenhum pedaço de pau? - Subiria na árvore mais próxima! - E se não tivesse nenhuma árvore? - Sairia correndo. - E se você estivesse paralisado pelo medo? Então, o outro, já irritado, retruca:  -Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça? O Amigo da Onça estreou em 23 de outubro de 1943, chamando a atenção de imediato dos leitores. O sucesso do Amigo da Onça entre os leitores era enorme, mal se podia esperar pela próxima edição da revista para vê-lo cometer as maiores maldades e ironias do cotidiano: Enganar um pobre transeunte na rua, pregar uma peça na sogra, azedar com o cara que pedia dinheiro emprestado, botar uma armadilha para o chefe mal-humorado, etc. 



O Amigo da Onça foi publicado durante mais de 20 anos ininterruptos na revista “O Cruzeiro”.  Ao contrário de repórteres como David Nasser e Jean Manzon, desenhistas de humor como Carlos Estevão ou escritores como Rachel de Queiroz, que transformaram seus nomes em grifes tão difícil quanto era desvincular seu nome do personagem. Infelizmente ele sofria muito com certos vícios da sociedade de uma forma geral, quando era sempre apresentado como o criador do “Amigo da Onça” e nunca como Péricles. Se pensarmos pelo lado do personagem, esse sim foi um verdadeiro amigo da onça! Com o tempo e com todas as possibilidades que seu sucesso lhe conferiu além de estar vivendo longe da família numa cidade como o Rio de Janeiro, Péricles rapidamente desenvolveu uma personalidade instável e se tornou um boêmio inveterado. Péricles morreu de forma trágica. Na  noite de 31 de dezembro de 1961, ele escreveu 2 bilhetes, reclamando da solidão, fechou todas as portas do seu apartamento e ligou o gás. Antes, o último o Amigo da Onça desencarnou de seu corpo e foi colocar um aviso na porta, escrito à mão: "Não risquem fósforos". 




Após a morte do companheiro, o cartunista Carlos Estevão continuou fazendo as páginas do Amigo da Onça . O personagem foi revivido pelo menos mais duas vezes de lá para cá, porém, não passou de tentativas mal sucedidas em termos de receptividade com o leitor, acostumado a vê-lo nas páginas de “O Cruzeiro”. No ano de 1920, os Diários Associados lançaram aquela que seria a principal revista ilustrada brasileira do século XX : O Cruzeiro, e junto dela algum tempo depois, o seu mais famoso personagem,  O Amigo da Onça.



F  I  M


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