BETO ROCKFELLER / 1968 - No
dia 4 de novembro
de 1968, estreava na TV Tupi no horário das 20h; uma novela que revolucionou o gênero das
telenovelas no país. Escrita por Bráulio Pedroso, com direção de Lima Duarte e
Walter Avancini, e uma criação de Cassiano Gabus Mendes, a novela Beto
Rockfeller ditou moda e alterou a linguagem dos roteiros dos capítulos até o
momento de seu lançamento. Alberto ou simplesmente Beto, como é mais conhecido,
é um charmoso representante da classe média-baixa que mora com os pais, Pedro e
Rosa, e a irmã, Neide, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, e trabalha como
vendedor em uma loja de sapatos na Rua Teodoro Sampaio.Com sua intuição e
perspicácia, o vendedor Beto se transforma em Beto Rockfeller, primo em
terceiro grau de um magnata norte-americano, e consegue penetrar na alta
sociedade, através de sua namorada rica, Lú, filha dos milionários Otávio e
Maitê. Assim, ele consegue frequentar as badaladas festas e as rodas da mais
alta sociedade paulista.Quem Beto irá preferir afinal? A temperamental Lú,
garota sofisticada e rodeada de gente importante; ou a inocente Cida, a humilde
namoradinha do subúrbio? A contradição será explicada através de seu nome:
Beto, humilde e trabalhador do bairro simples, e Rockfeller, sofisticado e
badalado da Rua Augusta, lugar muito frequentado pela alta roda nos anos 60.
Enquanto vacile entre os dois extremos, a grã-finagem dobra-se ante seu
maniqueísmo, e ele tem de fazer toda ordem de trapaça para que sua origem que
já não é segredo para Renata, uma jovem grã-fina decadente não seja descoberta.
Para se safar das confusões, o “bicão” Beto conta sempre com a ajuda dos fiéis
amigos Vitório e Saldanha.
Uma verdadeira inovação na
televisão brasileira. Enquanto a superprodução era a arma da TV Excelsior para
segurar a audiência, a TV Tupi apostava na linha iniciada com outro grande
sucesso da emissora de 1968 também, a novela “Antônio Maria”, com Sérgio Cardoso. A
idéia inicial da novela foi do então diretor geral da TV Tupi, Cassiano Gabus
Mendes. Ele chamou o dramaturgo Bráulio Pedroso para escrever os capítulos, mas
como Pedroso era um homem do teatro e pouco entendia sobre televisão, seus
textos eram adaptados pelo diretor da novela, Lima Duarte. Cassiano, Bráulio e
Lima estavam por trás de uma trama simples, mas que mostrava nova proposta de
trabalho para a televisão brasileira. Beto
Rockfeller abandonava a linha de atitudes dramáticas e artificiais que
acompanhavam as novelas desde que o gênero havia chegado ao gosto nacional. Na
verdade, uma primeira tentativa havia sido feita por Lauro César Muniz em 1966
com “Ninguém Crê em Mim” na TV Excelsior,
em que o tom coloquial dos diálogos rompia com os padrões estabelecidos até
então. Todavia só mesmo com o trabalho de criação e o posicionamento de
modernizar a linha da telenovela, foi possível adaptar o público às novas
exigências. Não só os diálogos mudaram. Tudo passou por uma renovação, a
estrutura da história principalmente. O anti-herói assume os postos até então
ocupados por personagens de caráter firme, sensatos, absolutamente honestos e
capazes de qualquer proeza para salvar a heroína das adversidades. A sua
concepção procurava se aproximar das pessoas comuns; isto é, ter as atitudes
boas ou más conforme se apresenta a vida.
A grande sacada da novela foi dar
ao público uma fantasia com gosto de realidade. As notícias que andavam nos
jornais da época faziam parte de novela, uma novidade até então. Os fatos mais
sensacionais e as fofocas mais quentes eram comentadas por seus personagens. Beto Rockefeller revolucionou até o
modelo de interpretação dos atores, que passou dos exagerados gestos dramáticos
para uma forma natural. O próprio Luiz Gustavo fazia questão que o personagem
fosse o mais verdadeiro possível. A linguagem foi inovadora, os diálogos
incorporavam gírias e expressões do cotidiano. Isso fazia com que o público se
identificasse com a história. Muitas vezes, os atores improvisavam suas falas,
inventando diálogos que não estavam no script, o que também era novo na TV. Eliminou-se
o final de capítulo com aqueles “ganchos” forçados. E a direção não se
restringiu apenas a marcar os atores em função da câmera. O despojamento dessa
marcação provocou a libertação dos atores, no sentido de fazer um trabalho
artístico também na televisão. Outra inovação foi a trilha sonora, que deixou
de trazer temas sinfônicos tocados por orquestras e utilizou sucessos pop da
época, como os Beatles, Rolling Stones e Bee Gees. No entanto, a trilha sonora
da novela não foi lançada comercialmente. Porém, nem tudo foi perfeito em Beto Rockfeller. O sucesso fez com que
a emissora “espichasse” sua história, e o autor Bráulio Pedroso, em grande
estafa, abandonou provisoriamente a sua obra (foi substituído por três autores
liderados por Eloy Araújo). Lima Duarte também se ausentou, sendo substituído
pelo diretor Wálter Avancini.
Alguns atores
tiraram férias, e muitos dos capítulos eram preenchidos com qualquer “idéia” de
emergência, ora com um grupo de jovens dançando numa festinha, ou um personagem
caminhando indeciso ou então uma determinada ação, sem diálogos, era acompanhada
por alguma música de sucesso. Com uma mudança tão radical, a novela poderia
perder audiência, o que não aconteceu. Tudo o que foi válido serviu de base
para as novelas do futuro. Até mesmo as improvisações dentro da falta de
organização da época, servem de modelo até hoje. Mas no fundo, se as novelas
revolucionavam na sua fórmula, seu conteúdo era mantido o mesmo. A disputa em
busca da audiência. Luiz Gustavo atingiu o auge de sua popularidade e se
consagrou como um grande ator da televisão brasileira. Devido ao seu
alongamento, a novela apresentou alguns personagens efêmeros, que sumiam e
desapareciam de acordo com a necessidade da história. Assim surgiu “Domingos”,
dono de uma oficina, que só aparecia de costas e que em pouco tempo morreu. Foi
o caso também de “Secundino”, mordomo na mansão do milionário Otávio (Wálter
Forster). Desse personagem o público só conhecia as mãos e a voz misteriosa.
Ele também desapareceu sem que seu rosto fosse visto. Tanto “Domingos” quanto “Secundino”
foram vividos pelo diretor Lima Duarte, que, por sinal, representou pelo menos
uns cinco papéis na novela nesse mesmo esquema. Foi em Beto Rockfeller que a novela recebeu, ainda que em caráter não oficial,
o primeiro merchandising. Como Beto bebia muito uísque, Luiz Gustavo fez um
acordo com o fabricante de um remédio contra ressaca, o “Engov”, e faturava
cada vez que engolia o produto em cena.
A VOLTA DE BETO ROCKFELLER / 1973 - Foi também a primeira novela a
utilizar tomadas aéreas. Os técnicos voaram de helicóptero para gravar uma cena
de pesadelo do personagem-título. Em 1973, Bráulio Pedroso escreveu uma
continuidade: “A Volta de Beto Rockfeller”,
com parte do elenco original. Não conseguiu a repercussão esperada, mas também
não comprometeu o personagem. Hoje, não existem mais os capítulos da novela. O
pouco que sobrou de suas filmagens está guardado na Cinemateca Brasileira, em
São Paulo. Quase todos os capítulos foram apagados pela própria Tupi, que usava
as fitas para gravar por cima os capítulos seguintes. A Tupi já passava por
dificuldades financeiras e todos os projetos que apareciam tinham de ser feitos
com baixos custos, mas que trouxessem lucros para a emissora. A curiosidade
principal, é justamente sua linda trilha sonora que não foi lançada
comercialmente. Mas como não se lembrar do tema de Renata (Bete Mendes), “F...Comme
Femme”; uma canção inesquecível que permanece guardada na memória de todos os
leitores que estão lendo essa matéria, interpretada por Adamo, ou “I Started a
Joke”o tema de Maitê (Maria Della Costa) na voz incomparável do grupo Bee Gees?
Interessante também, de que nessa época, não havia a separação de trilhas
nacionais e internacionais, a maioria dos discos trazia alternadamente sucessos
estrangeiros e brasileiros num único vinil. Em sua continuação de 1973, “A Volta de Beto Rockfeller” teve o
lançamento de seu disco através do selo Polydor trazendo ao público, Jorge Ben,
Bee Gees, Raul Seixas, Paul McCartney, MPB4, The Osmonds, entre outros.
Detalhe: Essa novela teve o patrocínio exclusivo da DUCAL. Bons tempos!
Não é muita coisa, mas pelo menos, no acervo pessoal, tenho 06 capítulos de BETO ROCKFELLER, e mais 08 de A VOLTA DE BETO ROCKFELLER, todos telecinados de películas de 16mm, material este, totalmente preservados pela CINEMATECA NACIONAL. O valor histórico que esses materiais possuem em termos culturais e de história da televisão brasileira, muito embora seja mínimo em termos de quantidade do que já foi produzido no país pelas emissoras brasileiras de TV, acredito eu, de que um dia ainda serão devidamente valorizados e divulgados de uma forma mais coerente, e sem dúvida alguma, os verdadeiros colecionadores espalhados pelo país afora, tem grande contribuição por garimpar e resgatar itens raríssimos que infelizmente, nem a TV brasileira, e nem entidades ou órgãos "oficiais" que deveriam ter se preocupado com isso numa determinada linha de tempo, nada fizeram para perpetuar a memória televisiva brasileira e mundial, como é feito lá fora! Precisou surgir a era digital para se contar história....um absurdo isso, e que inevitavelmente fez com que centenas de programas e shows brasileiros, simplesmente desaparecessem das prateleiras das emissoras de televisão, independentemente dos incêndios, das gravações realizadas por cima das películas para uma economia de material de estúdio e por aí vai.....bem como todo trabalho perfeito da dublagem brasileira nos incríveis seriados e desenhos que marcaram época e toda uma geração justamente pela galeria de vozes emprestadas por grandes atores e atrizes do rádio e da televisão, a personagens simpáticos e carismáticos que até hoje imitamos ou idolatramos quando salvo algumas reprises por canais temáticos, são exibidos em canais fechados de assinatura!
TV TUPI - BETO ROCKFELLER - CAPÍTULO 71 / 1968
TV TUPI - A VOLTA DE BETO ROCKFELLER - CAPÍTULO 102 / 1973
(clique nos links acima para assistir aos capítulos das novelas da Rede Tupi de Televisão, BETO ROCKFELLER e A VOLTA DE BETO ROCKFELLER)
NOTA: OS DOIS CAPÍTULOS EM VIDEO AQUI POSTADOS, E PERTENCENTES DE MEU ACERVO PESSOAL DE COLEÇÃO, AS SUAS RESPECTIVAS MATRIZES EM 16MM ESTÃO PRESERVADAS E FAZEM PARTE DO ACERVO DA CINEMATECA BRASILEIRA!